O glorioso inventor da ansiedade, Alexander Graham Bell (1847-1922), deve se
arrepender até hoje da sua patente telefônica. (Como Santos Dumont,
dândi brasileiro em Paris, que maldisse do seu próprio brinquedo
ao vê-lo nos céus da guerra).
Nestes tempos em que celular virou brinco, eternamente colado às "oiças"
de madames, de moçoilas, de executivos e de modernos em geral, uma reflexão
recente de dona Maria do Socorro, brava sertaneja, mãe deste que vos
berra, vem como pílula mais do que apropriada: "Conheci teu pai,
namorei, casei, engravidei de todos vocês, criei minha família,
cuidei de tudo direitinho, graças a Deus não morreu nenhum...
E nunca precisei dar ou receber um telefonema, nem unzinho mesmo!".
Mulher do sertão, que só pegou em um telefone depois dos 50 anos,
anda revoltada com parentes e amigas que vivem grudados ao celular. "Tá
todo mundo de pescoço torto, cabeça decaída para um lado,
parecendo frei Damião, por causa dessa moda nova. Ora, voltem a pôr
as cadeiras nas calçadas, na frente das casas, e vão conversar
sem o diacho desses aparelhos."
A máxima aceleração de ansiedade à qual dona Socorro
submeteu os seus batimentos cardíacos foram os berros do carteiro.
A lamúria da falta do telefonema do dia seguinte, protesto do novo código
do bom-tom das moças, também é situação nunca
dantes vivida. Sem a invenção do velho Graham Bell, o dia seguinte
nascia sob aurora mais sossegada.
Antigamente, tudo dependia mesmo da dramaturgia do encontro. A onipresença
amorosa e/ou comercial instaurada com o celular não era coisa deste mundo.
Uma carta, no máximo, poderia ser uma estratégia, garrafa atirada
ao mar de tantas Penélopes.
Um recado pelo rádio também valia, mas para casos de sumiços
de verdade -cheguei a ser sub do sub-redator de programa do gênero, comandado
pelo locutor Gevan Siqueira, na rádio Vale do Cariri, em Juazeiro, com
recados amorosos e novelinhas à moda de "Tia Júlia e o Escrevinhador",
de Vargas Llosa.
Deixemos de ser plantonistas do mundo. No amor, assim como nos negócios,
não somos tão importantes a ponto de alimentar essa onipresença
digital. Casanova amou centenas de mulheres sem precisar de um telefonema sequer.
No mundo dos negócios, muita gente também fez fortuna sem telefone,
acreditando apenas no olho do dono como engorda caixa da bodega.
Quer jogar conversa fora, faça como a velha recomendação
de um Jeca Tatu: "Mate uma galinha gorda no domingo e me convide para comer".
O autor: Xico Sá. - Jornalista e escritor, edita
o site de crônicas de costumes
O Carapuceiro (www.carapuceiro.com.br).
Dê quem é a bola?
No princípio do mundo, Adão e Eva
cometeram a primeira falha contra Deus. Os homens passaram a atribuir
todo o mal do mundo: as doenças, as crises, os sofrimentos à falta
cometida por Adão e Eva.
“A Bola”, o problema, era sempre atribuído ao pecado de Adão e Eva.
Acontece
que as crises foram aumentando, o mundo desenvolvendo, o homem
conscientizando-se e concluindo que a bola não era de Adão e Eva,
jogando a bola para o Governo.
A bola passou a ser do governo . . .
O Governo
O governo passou a ser responsável por todos os problemas, por todos os males que envolviam a humanidade.
O povo passava fome por causa do governo . . .
A educação não ia bem por causa do governo . . .
Professores não eram competentes por causa do governo . . .
Coitado do governo. Coitado do presidente.Jogavam a bola para a sua mão, responsabilizando-os dos pequenos aos grandes problemas.
Acontece que o povo percebeu que a bola não era do governo mas sim do sistema; e levaram a bola para o sistema.
O sistema
Quem é o senhor sistema? O que ele faz? Onde ele fica ? Por que as famílias acusam o senhor sistema como responsável pelos problemas.
Responsabilizaram pais, educadores, o senhor sistema pelo elevado número de marginais que aparecem nas grandes capitais.
Culpa o senhor sistema de não tê-los educado e não possuírem família.
Afinal, a bola é do sistema?
O povo continua a questionar: “De quem é a bola?” e acham como resposta que a bola é do pai e da mãe. . .
O
pai joga a bola para a mãe acusando-a de responsável pela educação dos
filhos. Se os filhos vão mal ele diz: “Você não para em casa, você não
os acompanha, não cuida da saúde; só pensa em emancipação, quer ter os
mesmos direitos dos homens, trabalha dois horários.
Essa família vai mal!!!!!!!!!!!!!!
A
mãe, por sua vez, sentindo-se injustiçada, joga a bola para o pai,
acusando-o por não estar presente no lar nos momentos difíceis de
educar, dizendo-lhes que ele só tem tempo para futebol, trabalho, amigos
etc.
Essa família vai muito mal!!!!!!!!!
Acontece que os dois em crise resolvem justificar o erro de grande responsabilidade, jogando a bola para a Igreja. A Igreja abraça a bola e fica com ela. Mas depois percebe que a Escola pode também ajudar. Então a bola vai para a escola.
Escola
A
escola recebe reflexo dos problemas familiares e sociais, traduzindo-os
em alunos subnutridos, carentes, aprendizagem lenta, desajustados . . .
Mas
a escola resolve se isentar desta responsabilidade de educar e diz que o
problema “A bola” é do pai, da mãe, do sistema , do governo e que ela
só vai fazer aquilo que lhe compete.
Acontece que a bola continua solta. . .
O mundo em decadência, as crises aumentando, os homens se violentando,
as crianças se degenerando e o mundo que foi criado para ser um paraíso
passa a ser um campo de concentração, de guerra e desamor.
“A Bola”
sendo jogada pra lá e prá cá, o problema não chega à uma solução porque
todos tiram o corpo fora, omitindo-se, alheios diante do amor e da
responsabilidade.
Portanto, deixando com vocês agora, a “bola”.
Textos lidos e dialogados em sala de aula.
(Prof° Lenice - Atividades Práticas Programáveis).